segunda-feira, 19 de maio de 2025

Palm Beach 26/01/2020

ao contrário de muitas que sou, quase sempre do contrário. prefiro as luzes amarelas e desgastadas às luzes embriagadas/vermelhas de uma festa e qualquer burburinho que seja. admiro a lua bem do solo, enquanto sonho com chácaras, paredes de tijolinhos e amoreiras e jabuticabeiras. dálmatas correm soltos pelo gramado, os pássaros roubam frutinhas das árvores e eu me encontro ao lado da rede, sozinha. não escreverei sobre ruas largas de Palm Beach, Delray, Downtown Beach - nunca que me veria aqui de verdade. porém, cá estou eu! bem. de forma geral, bem. o conforto dos que vivem aqui é o luxo, já o meu: é estar em um gramado passeando com dálmatas. (depois eu termino) (sozinha)

(maia)

2018

 Texto que achei no meu caderno de gatinhos do pintor Carlos Páez Vilaró, comprado no Uruguai. Cartinha escrita em 2018.


Espero que, algum dia, alguém te entregue isso. Acho justo você me conhecer mais também. Às vezes, acabo ficando mais calado; às vezes, as palavras me travam, e eu continuo a me estressar com elas saindo erradas da minha boca. Como você, em algum momento, me escreveu: é dicotômico, sim, mas não quero fazer nenhum estudo sobre isso — aposto que alguém em mim fará. Eu estou aqui. Adoro laranja, correr na areia da praia, regatas, bandanas, e odeio camarão. Não sei o que sentir sobre isso não ser constante. Não sou um mentiroso — mas aposto que, amanhã, eu comeria um prato de camarão contigo e diria que está ótimo! Tudo bem. Ao contrário de muitas que sou, não me agonia estar aqui. Sei que sou útil para muitas coisas. Gosto de escrever e sair de casa — quem sabe até fugir! Mas me agonia, até certo ponto, meu nome escondido atrás de uma cortina vermelha. Mas tudo bem. Digo de novo, e pra mim mesmo/mesma: não estou por aqui sempre, mas, quando estou, aproveito imensamente o que posso. É o que sempre fiz. Quem sabe, algum dia, eu aprenda a tocar violão e te escreva uma música! Na minha cabeça, eu já teria feito isso há muito tempo. Coloquei "Frevo por Acaso" na sua playlist para que se lembre bem de mim e do meu nome. Como outra música dele diz: tô por aí! Ao contrário de "De Passagem", não estou — mas todo o restante da letra eu dedico a você! Sinto que já já me vou, e há tanto a ser feito! 

Com carinho, 

Cícero

27/05/18

 Texto que achei no meu caderno de gatinhos do pintor Carlos Páez Vilaró, comprado no Uruguai. Nota escrita em 2018.


Quando tudo está virando líquido e escorrendo para todos os lados, sento em minha cadeira preferida e vou beber café - me agarrando, assim, em algo. Qualquer coisa.

Tudo não pode ser só isso, Diário. Não pode. E onde fica tudo o que eu nunca irei saber?

18/03/18

 Texto que achei no meu caderno de gatinhos do pintor Carlos Páez Vilaró, comprado no Uruguai. Textinho escrito em 2018, bem divagando poraí numa viagem. 


Ontem, de madrugada, sonhei que não haviam casas, só o preto e o vermelho. Eu vi! Vi sim. Por entre todos os sonhos, de todos. A floresta obscura, várias árvores, curvaturas e os cervos confundidos com galhos. A metáfora do acordar, uma bala bem ao centro da cara, isso tudo enquanto o coelho do relógio corre como um doido! Uma cadeira no centro da sala branca, sem portas, sem janelas - a luz pisca. Sem saída? Sim.

Agora, acorde no centro da rua - céu roxo das 3h da manhã. A coruja espia-te e você inventa de acreditar no gato do fim da rua, sentado na grade de uma casa amarela. Nunca fui de gostar muito de amarelo. 

Se transporte então para dentro da sua geladeira! Onde o resto dos seus sonhos estão, agora todos cobertos de poeira! Sufocante e congelante - ali está você. Saia.

sábado, 3 de maio de 2025

7/7/18

Texto que achei no meu caderno de gatinhos do pintor Carlos Páez Vilaró, comprado no Uruguai. Textinho escrito em 2018.


Estava em casa, não aguentei. Precisava sair daquele lugar. Já estava quase pra vomitar de agonia. Subi na bicicleta e cheguei aqui. Engraçado, durante o trajeto todo, só pensei na cena de estar aqui, sentada - exatamente aqui. Preparei o roteiro inteiro enquanto pedalava e o vento batia em meu rosto. Onde moro é seguro e existem vários caminhos e becos para se enfiar. É divertido. 

A verdade é que sempre quis sentar aqui e escrever algo, qualquer coisa que fosse. De certa forma, estou feliz por essa conquista! Durante o percurso inteiro, pensei no agora, estar sentada segurando exatemente esse lápis e esse específico caderno. Porém, não consegui pensar em nenhuma linha escrita. Bom, o que é escrito agora então é fresco. Melhor que um diário! Concorda?

Precido dizer para você algumas coisas: o último filme que assisti foi ótimo, mas fez com que eu me sentisse sozinha. Durante a pedalada até esse banco que sento agora, relembrei o medo que tenho de homens desconhecidos. Também pude me divertir com o som que as folhas fizeram quando estava chegando perto de onde me encontro agora. Breve trajeto, divertido. Outra coisa, mas essa vai mais longe no que estava pensando: é que tento ao máximo não repetir palavras ou frases de poemas que escrevi em outros textos. Sim, estou tentando ao máximo não repetir e escrever "fluxo de consciência". Bom... agora, foi-se! A penúltima coisa que vos digo é que senti uma mão nas minhas costas, agorinha, mesmo estando sozinha. Isso foi agora a pouco! Nesse banco embaixo de um caramanchão feito pela administração do Lago Norte. A última é que estou indo me levantar, rumo minha casa e usar, pela primeira vez, as luzinhas traseiras da minha bicicleta.  

Ah! Antes que me esqueça, já que você chegou até aqui, seja quem for, contei-te uma mentira nesse texto. Ache. Ache-me.


Raíssa?

sexta-feira, 21 de março de 2025

21 de março de 2025, 3h26 da madrugada (tirado das notas)

Enquanto antropóloga, sei: isso não é uma etnografia! Mas sinto a urgência de anotar, escrever, desembaraçar as mãos — ter um pouco do vivido e compartilhado em pauta, mesmo que seja análise ou conversa de saída na rua; conversa com alguém que está esperando, com você, o sinal ficar vermelho para atravessar a rua.


Dou uma pausa e escovo os dentes. Quem sou eu? Lua. Digo em alto tom, dentro da minha cabeça, tentando cortar os diálogos de Camila — ela, que não consegue ouvir ou ver um fato sem querer logo transformar em ideia para um novo conto. Como posso te explicar isso?

É como se eu estivesse tranquila, lavando as mãos na pia do banheiro, e, de repente, surgisse esse diálogo, puxando com força, querendo arrebentar a porta. Uma urgência desesperada de transformar e criar um pensamento, que vai acabar virando um grande texto. Um texto onde Mário e Margarete — meus personagens dos meus contos de sempre — estarão no fronte.

É tipo quando leio uma história de um livro e devaneio; começo a criar outra história dentro do livro.

Sinto que Camila tem essa urgência de querer escrever o tempo inteiro. Ou melhor, de tentar transformar TUDO o que pode em um conto com personagens, transformando fatos diversos em diálogos e especificidades de cenários para contos.

Eu me seguro! Para quem me escuta, pode ser algo como: “eu tento me conter para que esses pensamentos não me tomem por inteira e eu passe a começar a rascunhar um texto legalzinho, um conto”.

Eu entendo isso. Mas eu, que estou aqui, QUERO ESTAR AQUI, PRESENTE. Não quero outra na minha cabeça agora. Quero ter controle dos meus pensamentos.

Que venha, então, Camila em outra hora e faça isso — mas não quando eu estou aqui e me sinto aqui. Eu, hein.

Se compartilho minha cabeça com outras, que essas esperem até eu estar saciada da minha própria realidade. Depois que eu já não estiver aqui, que tomem minhas rédeas — ou melhor, as próprias; seja de quem virá, de quem terá sua vez.

Um corpo é apenas um para tantas lógicas, nomes e cores, infelizmente. Mas é assim que há de ser.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

14 de janeiro de 2025 02h02 da madrugada

sem pontuação

eu sento ao lado da roda do meu carro na garagem ouço as gotas escorrendo pelas folhas das plantas do meu jardim frontal meu cachorro fica ao meu lado olhando a rua e ouvindo os cachorros que as vezes latem para algum som maior escrever sem por pontuação é interessante sabemos que é necessário mas não coloco agora tudo tem que ser dito sem pausa apesar de que na minha cabeça as faço ponderamente enquanto algum vizinho tosse e alguém ri e conversa bem à distância vamos seguindo em diálogo sentada em cima das pedras de Pirenópolis que constituem ø meu chão uma virada várias viradas cheiro do meu cachorro que agora está deitado em minha frente mas de cabeça em pé nunca saberemos ø que eles escutam que nós não escutamos então precisamos aceitar essa realidade para seguirmos né certo? primeira pausa aqui feita a contra gosto meu isqueiro acabou  mas por acaso pensei nisso antes e deixei um escondido numa bolsa no porta malas porém agora devo dormir podia ter sido um final diferente agora escuto uma coruja gritar penso que devo dormir não sei quem sou mas quem você é agora meu cachorro achou algo para morder e cada mordida preenche a noite

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Brasília, 8 de dezembro de 2024 (modificado e retirado de um diário)

Ia dormir, mas fui responder algumas mensagens no celular e acabei retornando para a escrita. Preciso voltar a ser calma. Preciso não estar contaminada.

Vi que escrevi, em outro momento, sobre um poço de fazenda. Lembro-me de mim, criança, correndo sozinha na estrada de terra da fazenda, com minhas botas bem gastas pelas aulas de montaria. Achei um poço no meio do milharal. Achei que tivesse descoberto um mundo de segredos. A água estava gelada. Bichinhos em cima da água se moviam, feito aranhas-d’água — parece que se chamam aquarius esses insetos de pernas finas.

Lembro que bebi; enfiei meu rosto na água gelada, espantando os insetinhos. Não dava para ver o fundo. Tudo era um tom de azul-marinho. Sempre tive medo de abrir os olhos debaixo d’água.

Sei que eu me aventurava sozinha por todo canto da fazenda do meu pai — algumas vezes sozinha, outras vezes com as crianças do caseiro. Brincávamos de dar comida para os porcos, chupar cana, andar a cavalo e perseguir os girinos da nascente do Rio Verde. Em outros momentos, minha brincadeira era com meus amigos imaginários. Seus nomes, guardados no fundo da minha cabeça — eles possuem corpo, voz, sentimentos e partes de mim.

Lembro-me bem deles, em memórias meio opacas, em brincadeiras que aconteciam no meu quintal de casa e também na porta de vidro da sala. Saudades. Vivo no passado, pois moro numa casa de infância ainda. Ou, talvez, procuro ao máximo viver numa casa de infância para fingir que há como segurar o tempo nas mãos.

E o pior: ainda não sou uma pessoa velha.

Casa repleta de coisas; bagunça do que já fui e sou; paredes que me viram crescer. Escrevo aqui, agora, mas sinto que minhas memórias antigas — se posso dizer — são todas tão classificáveis. Parece que posso contá-las. Consigo classificar coisas novas? Posso ver mais do que vivi? Esquecer e relembrar. Nem todo livro me dará respostas.

Gostaria de procurar mais nas florestas do Norte, ao lado de lobos.