quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Para M

 Realmente, faz muito tempo que não escrevo. Vez ou outra algumas notas, ou palavras de amor. Mas existe sim um certo tempo que não abro os documentos para escrever o que tem dentro de mim, muito menos dar uma olhada nas minhas paredes brancas. Mas a verdade é que não sumi, não mesmo. O processo analítico é curioso, não esse que vem de mim por completo, que se pinta de vermelho e obsessivamente anota tudo o que pode no papel - outros momentos nas próprias pernas. Nada disso. Mas sim o processo de falar pra outrem que pouco sei sobre, mas que escuta, dá risada, franze os olhos para enxergar melhor.

Eu achei que tivesse me perdido, mas acho que só esqueci um pouco de certas coisas. Mas elas retornam, não é mesmo. Ouço isso direto. Mas outras situações parece que não voltam mesmo, mas nem quero entrar em buracos de coelho agora, não mesmo! Me encontro realmente sentada na sala, mas antes eu estava a dirigir meu carro, freando onde não gostaria e acelerando com o bater da música. Tentei começar esse texto de diversas formas possíveis! Mas sempre alguém me interrompe. Não quero falar de um lugar mórbido,  que inclusive consigo muito bem, se eu fechar os olhos - quarto, tapete, cigarro, caderno bege. Acredito que este lugar me levaria a solos, romantizações estranhas, um senso de superioridade ainda não superado e sabe-se lá o que mais. Escrevendo, agora, vou lembrando de mim mesma. Vou notando que realmente há em mim alguém que só vive no passado - mas não digo de forma vil. Também tenho os lugares em que me encontro, e que sei que outrora podem encher a boca para falar dele, mas de contrário, não julgo! Afinal, qual a graça de só pensar e não compartilhar nada em um simples texto!

Minha intenção não é cruel, é voltar a lembrar de mim. Não sobre corridas desesperadas, cigarros mentolados, um ponto claro no céu, madrugadas e tudo mais que vem do noturno. Mas o meu muro de arrimo, construído por mim mesma, que senta e tem a visão - quase completa - do que me rodeia. A presença de um rosto no escuro, que um tempo atrás esteve perto do meu olho direito, ou seja, eu o enxergava com mais nitidez. Mesmo que eu não enxergasse em certo tempo, um rosto também pode ter tal forma que ecoa nos ouvidos. Mas a realidade é que meu muro, que eu considero bem feito (já outras pessoas imagino que não), continua presente. Estrutura que, na minha cabeça, parece mais de pedra do que de concreto, algo meio como as pedras de pirenópolis, sabe? Sei nem se isso é possível, mas funciona! Eu garanto. O desnível se encontra, parado entre mim, mas não no centro, tenho muito caminho para andar antes que eu tropece em alguma lasca solta na grama. Hoje você me fez lembrar de ti, de alguma forma, sentada aí, lateralmente a minha construção, bem retida em diferentes níveis do meu solo. Dessa vez, sem muita vontade de me deixar falar. Mas aqui escrevo, e espero não termos mais encontros com dor. 


Lua