sábado, 30 de dezembro de 2017

Varias

Reflexos 
Espelhos 
Três corpos 
Em um só 

Curvas
Silhuetas 
O que tu vê?

É repetido
Cada imagem 
Uma de cada vez
Em cada espelho 
Ou vidro de carro
As vezes, mais de três 

Pisca teus olhos
A imagem desaparece
Reaparece
Vira outra
Afinal, onde existo em mim?

Toco na imagem
Se desmonta em outras
Não obtém sucesso
Não há como parar
Afinal, o que há em mim?

Não para 
Vira limite estressante 
Evita
Tapa cada pedaço de reflexo

Agora é pelas mãos 
Que tenta se reconhecer 
Só os olhos não basta
A mente materializa
o que se é temido

Então, o que se vê é real? 
O que é visto  
Vem de dentro
Inconsciente 
Briga entre ego e superego


Afinal, quem sou eu?

domingo, 10 de dezembro de 2017

21 de Outubro de 1969

O nevoeiro de Charles
E as pulgas no sofá velho de Kerouac
Todos loucos boêmios
Em que quanto mais risco
mais saboroso tudo se tornava
Cigarros, cartas e corridas de cavalo
Apostas, cervejas geladas e o frio na barriga estridente
Os carros em alta velocidade, os amores efêmeros 
e o suicídio cometido a três
lápis e papel e mão
O mar escuro de versos e ironias
Sorrindo, de forma cínica,
desesperados
com o afogamento
Embebedados por tudo:
Pela América prostituta de 150 quilos,
Pelas orgias
Pelo êxtase insaciável exteriorizado em cada palavra, cada ponto,
batido a maquina de escrever
Pela Califórnia, Nova Jersey, Kansas, de navio até a África e por fim, O Paraíso, O Inferno.
Pela jornada sem fim em busca do prazer
em busca de linhas ritmadas em alucinógenos
Por alter egos misantrópicos que vivem de mulher em mulher
Pela jornada sem fim enquanto a pantera negra
se desloca até você
e sua cama
Por uivos erógenos
E as famigeradas mesas de bar
Sim, embebedados por tudo,
até que a contínua embriagues, sedenta
torna-se sangue, hemorragia.


domingo, 19 de novembro de 2017

Alcova

Um quarto, escuro, breu noturno 
Cortinas fechadas, grade na janela
Um silêncio em meio aos lençóis 
Que é cortado por um som fraquíssimo 
Só eu posso ouvir
Acima da minha cabeça há uma lâmpada 
E, mesmo estando tudo fosco
Pude notá-la por ser mais soturna e extensa 
Foi tudo tão rápido 
Sua teia agora cobre quase todo o teto
E ela desce, vagarosamente,
Pelos tecidos
Seu olhar rúbeo 
Suas patas afiladas, quase a me tocar
Porém, não tocam 
E apenas suas presas que não pude enxergar com clareza 

Em meio a esse tempo de dúvida, ela se aproximava 
Pisco meus olhos com força 
Em um ato lépido de martírio 
Três vezes 
E ela some

Pergunto-me agora
Quando voltará? 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Pontua


Escrevendo pontualmente, entre as visitas e os pratos, na mesa
Jantar
A cadeira a se arrastar no piso marrom
Levanta um, mastiga outro
O vinho seco,
Tudo preparado com os mais finos ingredientes
Sempre lembrando à cultura Francesa
Salada por último
E o prato principal
Tudo bem servido, quente, pelando

Olhe o azeite, olhe os talheres 
Garfo à esquerda, faca à direita
Você ao meio, 
sentado onde todos 
não podem te ver 

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A fantasma

E é assim,
Ela me traz lápis, papel, paciência e palavras simples
Tudo o que preciso para juntar 
Com o que é mais real de mim:
Pilastras ocas, anfetaminas, concretos e ácidos do estômago. 
Se encaixam, soa perfeito. 

E é assim,
ela sempre diz para que 
eu faça um bom uso de tudo,
cada situação,
cada lágrima,
cada ponto solto na rua
em que tropeço. 

E é assim,
da sua boca saem sonhos,
pureza, leveza. 
E eu só rio
quando ela vira atriz,
inventa que seu nome é Lyla
e faz de qualquer lugar 
um grande teatro. 

E é assim,
que devoro toda essa inspiração,
tudo o que eu noto nela,
essencialmente nela. 

E é assim,
que ela se desmancha em curiosidade 
afinal, o que é que está tão escondido, atrás de 7 chaves de ouro?
Fico boquiaberto quando
ela solta da própria gramática mental
as mais diversas hipóteses e pronomes sobre esse caos. 

E é assim, 
que ela, ao final,
me deixa escrito 
bem na janela, no vidro,
que mal pode esperar 
o próximo furacão 
que preencherá paredes brancas. 

E é assim,
acordo no ônibus, perdido,
olhando para os lados 
até que me paraliso ao escutar
o sussurro do fantasma que não existe:
“E é assim, espero vê-lo novamente em breve”

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Jack e Margareth - Conto 6

•Margareth (entra em casa correndo e bem feliz, são 20:00 da noite e Jack está sentado na cozinha, olhando para o nada. Ela coloca uma caixa preta na mesa)
- Pronto, é isso!

•Jack (dando um gole em uma bebida forte)
- Você demorou hoje pra chegar do trabalho, foi sair com alguém é? Geralmente você costuma ser tão pontual.

•Margareth (ignorando)
- Comprei uma câmera! Estou com um novo projeto em mente, para nós dois, inclusive!

•Jack 
-Da onde surgiu essa ideia? Quer virar fotógrafa?

•Margareth 
- Estou querendo trabalhar menos na consultoria, acho que aqueles números todos e aquelas pessoas realmente não estão me fazendo muito bem.

•Jack
- Corta essa, acha que me engana? Tem algo aí, não é possível. Além disso, você foi feita para os números, não consigo nem pensar em outra profissão que você se encaixaria.

•Margareth
- Bom, eu até tentei Biologia. E, olha aqui, eu nem faço tanta questão assim desses números, voc~e exagera demais.

•Jack (ri sarcasticamente)
-Sim, claro, é verdade, sua obsessão é outra ilusão minha. 
Agora me diz, ainda lembra algo de Biologia? Chegou mesmo a fazer curso?

•Margareth
- Sim, claro que cheguei a fazer, inclusive, tinha as melhores notas da sala.

•Jack
- Isso era de se esperar, as melhores notas. Conte-me um novidade.

•Margareth
- Eu ainda lembro bem de algumas coisas... você sabe sobre a taxa metabólica de um pinguim de 65kg?

•Jack
-Por que diabos eu saberia disso?

•Margareth (falando rápido e animada)
- Em valores médios, quando o pinguim está dormindo a taxa é 60kcal/h, porém quando a atividade dele deixa de ser tão leve, como a ação de andar, a taxa passa para 400kcal/h. Entretanto, quando a atividade passa a ser um pouco mais pesada, como corrida, a taxa chega a 800kcal/h! Agora, sobre cachorros, 3 cães de 25 quilos tem necessidades superiores à de um cão de 75kg, isso se dá pois, com a razão entre a área de superfície e o volume corporal diminui com o tamanho do animal, nos cães menores a soma de energia consumida pelos 3 vai ser sempre superior à do cão de maior porte. Bem, agora sobre as vacas...

•Jack (interrompe Margareth)
- Estupendo mesmo, me perdi quando você misturou pinguins com cachorros. Qual o motivo de ter largado o curso?

•Margareth 
- Naquela época eu ainda era vegana. Quando a matéria chegou em botânica, comecei a saber exatamente tudo sobre as plantas, tudo. E bem, a ideia de que elas também sentissem dor, como os animais, começou a me dominar de vez... e o problema é que quanto mais eu estudava sobre elas, menor ficava meu cardápio... então já viu, precisei largar aquilo, não me fazia bem...

•Jack
-Margareth, você é uma pirada. O que é que não acaba por te fazer mal?

•Margareth (abre a caixa e tira uma câmera da caixa)
- Enfim, foco! Olhe só esta câmera!

•Jack 
- Legal... e o que pensa em fazer com ela?

•Margareth
- Estou com um projeto novo para o meu site... nosso site. Quero abrir uma página basicamente para fotos documentais, estive lendo sobre essa tipologia e fiquei encantada! Preciso disso! Talvez com esse projeto eu consiga também me afastar tanto de números e mais números.

•Jack
- Te conheço bem, Margareth, não escolheu esse gênero fotográfico aleatoriamente. Acredito que essa é a que mais envolve delicadamente o controle... e, bem, você sabe que não são só números que te afligem mas o domínio também...  novamente o controle.

•Margareth
- Jack, eu me informei bastante sobre esse assunto. Já até sei que devo utilizar o modo de prioridade de abertura, assim não precisarei ter que configurar sempre a câmera e...

•Jack ( sem deixar que ela termine)
- Parabéns, você sabe a parte técnica inteira, mas pense em uma cena de conflito, você pode até saber sobre a configuração mais perfeita, porém, surtaria com a falta de controle e caos do momento. Fotografia vai muito além de uma iluminação e posição perfeitos.

•Margareth (pensativa e um tanto quanto triste)
- Talvez você esteja certo mesmo.

•Jack (levanta da cadeira e ajuda a guardar a câmera de volta na caixa e a tampa)
- É uma pena ver o quanto sua personalidade anancástica acaba contigo, Margareth, estou falando sério contigo. Sua compulsão te devora cada vez mais e eu não posso fazer nada para parar isso, apenas você.

•Jack (enche seu copo de whisky até a boca e dá um gole que acaba com a bebida do copo)
- O seu projeto pode até ser interessante, mas convenhamos, eu te conheço, você não conseguiria nem por um dia aguentá-lo. Margareth, entenda, até que você não ache a porte de saída do seu labirinto numérico, não conseguirá suportar quase nada. 

•Jack ( deixa o copo na mesa e vai em direção a Margareth e sussurra em seu ouvido antes de virar as costas e subir para o seu quarto)
- A ficha precisa cair. O tempo não para. Quanto mais você se perde nesse labirinto, mais seu suicídio é prolongado.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Jack e Margareth - Conto 5

•Jack
Me ajude aqui, por favor. É algo sério.

•Margareth
Hm, quero fazer o café, espero que seja rápido

•Jack
Qual a maneira mais fácil de vomitar?

•Margareth (se assusta e fala de forma rápida)
Está louco? Passando mal?
E de onde você tirou que sei sobre isso? Creio que é só tomar aqueles remédios pra quem bebeu algum veneno... acho que vende em qualquer farmácia

•Jack (anda em direção ao banheiro, perto da escada)
Esperava que soubesse, afinal, esse seu doutorado em autodestruição serve pra que?

•Margareth (ignorando o que Jack diz)
Anda, me conta o que aconteceu dessa vez. São nem 6 horas da manhã e você já vem com essa conversa. Não me diga que foi veneno mesmo... quando o assunto é você, só espero o pior.

•Jack
Sim, envenenamento. É sério.

•Margareth (preocupada)
O que você bebeu??

•Jack
As notícias, Margareth! Ontem saí para pegar o metrô, como o de costume, e fui encurralado por milhares de péssimas notícias amargas em todas as paredes, lugares.
Eram mortes, sangue, assassinatos...
Por acaso já citei mortes??

•Margareth (um pouco aliviada)
Entendi... e eu achando que você tivesse realmente bebido umas pílulas pra não acordar mais. Não me mate de susto! Além disso, você sabe que a mídia é assim, você sabe bem que...

•Jack (agora vasculhando remédios pelo banheiro todo)
Sim, claro, ok. Mas a questão é que estou envenenado sim! Dos olhos passou para o meu corpo inteiro e agora está na minha mente! E faz tempo! Não consigo parar de pensar em tanta notícia ruim. Eu preciso vomitar de vez!

•Margareth
Bom, entendi que você está sensível sobre esses assuntos todos e...

•Jack (interrompe)
Me diz agora, como você não está? Como muitos conseguem digerir tão facilmente esse veneno todo? Ontem, vomitei no metrô inteiro, devem ter me chamado de louco bêbado sem rumo. Dessa vez, eu nem estava bêbado! Juro!

•Margareth
Sobre o que você disse agora, talvez não seja vomitando que vai resolver sua situação. Realmente, foram poucos os que comentaram comigo sobre todas essas catástrofes recentes...

•Jack
Eu devo então usar óculos escuros? Acho que assim acabo não reparando tanto nas notícias... não devoraria tanto mal

•Margareth (indo em direção à Jack com um café)
Acho que não, Jack. Talvez precisemos de mais pessoas como você...

•Jack (sarcasticamente)
Ok, os rios em vez de água teriam vomito verde... boa ideia mesmo.

•Margareth
Não, idiota. Vomite então, porém, transforme essa massa verde em palavras, barulho, discussões. As pessoas andam a usar muitos óculos escuros por aí, aqueles de cego, sabe? É isso que piora ainda mais a selvageria de todos.

•Margareth (da um beijo na bochecha de Jack, entrega o café e sai pela porta da frente)

•Jack (sussurrando para si mesmo)
Talvez ela esteja certa. É melhor estar envenenado do que forçar um problema de visão qualquer. O pior cego e' o que nao quer ver.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Psicosobriedade

Ela me pergunta mais uma vez
O que há em você?
Eu mesmo, não sei como responder
Queria conseguir por para fora
Todas as palavras de vez
Mas em vez disso, folheio livros
e livros
Em busca de uma solução, alguma
que seja
Talvez Freud possa me responder,
Ou quem sabe Lacan, com seu caderno marrom,
não consiga arrancar
mais do que pontos finais de mim
Quem sabe...?

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

2016 - Amores que marcam fora da pele


É muito fácil escrever
sobre você,
e ao mesmo tempo 
muito difícil 

Quando nos vemos, 
faço o maior esforço 
para gravar tudo,
cada detalhe seu.
Vai do pelo da sua sobrancelha,
até sua barba mal feita 

Tiro várias fotos mentais 
do que eu vejo. 
Cada traço, palavra, charme. 

Quando chego em casa, 
revelo as fotos e procuro 
meu caderninho velho 
para escrever o que senti.

É tanta harmonia, movimento, caos,
e amor,
que em vez de poema
escrevo música. 

Encontro com um fantasma

Uma vez em um evento turvo 
Estava te procurando
Pela muvuca, onde
Milhares de pessoas vazias
Se esgueiravam pelo chão 
E fingiam, com suas máscaras,
Um pingo de alegria 

Eu não sabia onde você estava 
Então te liguei. 
3 vezes
Ao atender, pude quase sentir 
O ar bêbado 
Da sua boca,
Bem próximo de mim. 
arrepio na certa. 

Fiz o maior esforço para ouvir 
Sua voz sarcástica que
Se misturava 
Com a de seus demônios. 

A primeira mentira 
Que você disse,
Passou pelo meu corpo inteiro 
Até chegar na minha boca 
E ficar amargo

Só assim percebi
Que eu nem deveria ter saído de casa. 


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Lie to me

The heavy white wall
of disguise
is the barrier
between us.

we lie, we pretend
thinking that
the fire
won't burn,
won't raise.

but, unfortenelly,
we never lurn.
when we once again
lie to ourselves,
the flame
feeds on it,
getting stronger

as the more the
damage grows,
it will makes
incriasiling difficult
to efface the flame

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Sobrou 
sobrou no prato 
o resto 
de um fim 
cármico. 

Sobrou
sobrou ao lado da sua xícara
de café bem quente
dois barbitúricos
não os toma. 

Sobrou 
sobrou uma parte 
de nós
pichado lá naquele beco
fechado
sem entrada
sem saída 

Sobrou
sobrou os lábios quentes 
preparados,
prontos para o toque 
de outra boca
que não chega 
a tempo

Sobrou 
sobrou, ficou de lado 
escondido de baixo
do seu cobertor 

 Inspirado no poema "Sobrou" de Jean Boechat





domingo, 10 de setembro de 2017

Jack e Margareth - Conto 4

Jack estava sentado na cadeira perto da cozinha, se é que aquilo poderia ser chamado de cozinha... a geladeira, que já nem funciona mais, estava cheia de livros velhos de Margareth. As prateleiras, por outro lado, cheias dos mais diversos utensílios, novíssimos e caros. Aposto que nenhum deles foi usado naquela casa e muito menos seriam utilizados. Mas graças a eles a cozinha ainda poderia ser chamada de cozinha.
Mas não pense que a casa toda é assim, Margareth tenta deixar o resto dos cômodos impecáveis, os quadros foram todos bem selecionados pelos seus olhos críticos, os papéis de parede também, nenhuma parede branca foi a única exigência de Jack. A casa tem dois andares, em cima temos o quarto de Jack, que esse sim é uma bagunça ordinária, e um outro quarto de visitas. Embaixo, uma sala pequena, uma cozinha e o misterioso quarto de Margareth. Esse mistério já rendeu uns bons poemas, Jack nunca entrou lá, ainda...
Bem, fiquem a vontade, li em algum lugar que ''o que faz o lugar ser bom são as pessoas'', acho que foi em um biscoito da sorte Chinês ou algo assim.
São exatamente 6 horas da manhã e Jack tenta terminar o seu texto. Margareth acabara de se arrumar, sua rotina na semana é sempre a mesma: acorda 5:00 da manhã, levanta-se e toma uma ducha, abre as cortinas, escolhe sua roupa e em seguida prepara um café bem forte. Algo que nunca falta naquela casa são os cigarros e whisky de Jack e o pó de café.
Margareth passa pela sala, nota que seu quadro preferido está um pouco torto, uma pintura formidável inspirada nas bailarinas azuis de Edgar Degas. Após arruma-lo vai para a cozinha e começa a fazer seu café.
Antes mesmo de Margareth dar bom-dia ela é cortada por Jack:
J: Ouça isso aqui, por favor. Senta aí.
M: Quem diria você precisando da minha ajuda.
J: Começa mais o menos assim: A língua passa pelo licor, entre as cerejas e o vinho...'', preciso de mais sabor... mais uma pitada de sabor?
M: Tente um pouco de vermelho agora, isso sim tem sabor.
J: Ok, ''E entre seus lábios a minha própria sina, em vermelho sangue''. O que acha?
M: Ao fim coloque algo fora de si...
J: Que tal ''Um êxtase sublime pelo corpo inteiro''
M: Está indo bem com esse poema, conseguiu dormir essa noite?
J: Espere, espere. Agora sim estou quase acabando.
M: Com esse cheiro de whisky que senti já pude me responder...
Margareth coloca uma xícara ao lado de Jack e enche de café. São agora 6:30 e ela não pode se atrasar para o trabalho. Todas as manhãs, das 7 horas até às 15:30 da tarde, Margareth se prende aos números, trabalha na consultoria de estatística mais importante da cidade. Ela bebe seu café e vai em direção a porta:
- Até mais tarde, Jack. Quando acabar o poema não esqueça de me mostrar.
- Espere!
Na hora que ela coloca o pé para fora de casa, Jack pucha seu braço e entrega o texto, pronto. Margareth traga cada palavra e da um sorriso. Isso é música para seus ouvidos. Quando ela olha de volta para dentro de casa, Jack já havia sumido, provavelmente para seu quarto no andar de cima. Se tem algo que realmente pode salvar alguém em uma manhã cinzenta são a palavras de Jack, escolhidas a dedo em busca de efervescência. Dessa vez seu poema estava embrulhado em um papel de carta, ''para Margareth'' escrito bem em cima.
 - ''Eu olharia nos seus olhos até que a eternidade nos devorasse''.
Ela lê em voz alta a última frase, olhando suavemente para a rua. Tranca a porta e sai em direção ao metrô com a carta em suas mãos.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Margareth e Jack - Conto 3

São 8:00 da noite e lá estão Jack e Margareth no sofá da sala.
- Como pode, Margareth, como pode?
- O que foi dessa vez, Jack?
- Essa merda desse cara na televisão fazendo mágica com compostos químicos ou sei lá o que isso é.
- E o que tem? Achei muito legal, você viu um episódio em que ele joga uns líquidos em um balde e do nada explode uma névoa de gelo? Achei fantástico...
- Ah, claro! Um gênio mesmo, daqui a pouco joga tinta em um copo com água e diz que ela magicamente mudou de cor.
- Ora, Jack, larga de bancar um velho idiota. Pelo menos reconheça que o cara é incrível, eu nunca conseguiria fazer o que ele faz.
- Claro que não faria, você nem deve saber o básico de química, muito menos sobre o que é uma molécula de serotonina ou dopamina.
- Olha, serotonina regula o apetite e dopami...
- FODA-SE. A questão é que um cara desse é um Químico e só, é claro que ele sabe fazer essas misturas de bosta, isso não é mágica.
- Okok, Jack, então você tem preferencias por coelhos saindo da cartola... Corta essa, o cara é super famoso, enquanto você resmunga no sofá de uma casa caindo aos pedaços, ele está lá, faturando milhões de reais com a famosa ''química de bosta'' dele. Se você se acha tão bom, então porque não está lá no lugar dele?
Jack levanta-se do sofá, acende um cigarro e prepara seu olhar zombador.
- Me poupe, querida. Eu sou um artista de altíssima qualidade, nunca me submeteria a isso. Estar em um palco de um programa com um bando de olhares fúteis de alienados febris... A fama não é tudo isso, e é claro, só não estou lá porque não quero!
- Ah mas claro! Um baita de um mágico artista mesmo, espero que seu próximo truque consiga magicamente pagar o aluguel.
E assim, Margareth levanta-se em direção ao seu quarto, bate a porta e coloca seu ponto final. Logo em seguida Jack enche seu copo de whisky e então resmunga para a Lua fora da janela:
- Amadora...



domingo, 3 de setembro de 2017

Pronomes Pessoais 2016

Minha estratosfera sem fim.
Minha questão mal resolvida.
Meu amor cármico.
Minha paixão efervescente.
Meu sentimento indomável.
Meu sonho improvável.
Meu 
       movimento  
                         inconstante.
Meu limite estressante.
Minha paixão, novamente, crescente. (Crescente?)
Minha incógnita esquecida.
Meu desejo inquieto.
Meu labirinto secreto.
Secreto? Então acha-me.

Suas flores

Você sempre desenhava flores
Lembro delas em todos os lugares
Nos meus cadernos, livros.
Em sua mesa e no seu corpo.
Nas minhas paredes brancas
e no meu amor.
Nos seus sonhos e desejos.
Acredite, depois de tanto tempo
Elas ainda florescem e aparecem
Por aqui.

Speak of the Devil

She has a dark, dark hair
And an elegant cat walk
Her eyes are black turmalines
And her lipstick bloody red

In the depth of the night
Silently waiting for you
To leave you breathless 
And devour your soul

Her words are poison
Which spreads all over her body
She's a cocktail of insanity
And you just another that will fall for it

Her deadly lies will haunt you
While she laughs in ecstasy

She has horns like the Devil
And now 
She's coming for you


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Margareth e Jack - Conto 2

As 24 horas do dia. A porta que você esqueceu de trancar. O cachorro na rua, latindo, pingando baba. Uma família inteira que morre agora na Síria. O som de uma raposa. A bomba que cai agora e mata 250 pessoas. 251 pessoas. 252 pessoas. Os postos de saúde que de saúde não tem nada. Os médicos corruptos. Os vendedores de drogas. A carniça de deputados, senadores. O presidente morto por pássaros azuis. A pausa em uma música do Beethoven. Os números de Margareth. Os corredores brancos que te engolem com os olhos. A dor e a delícia. O fim. O fim. O fim. O fim do labirinto e...

- ACORDA, JACK. CACETE!
Essa não é a primeira nem segunda vez que Jack está caído no chão do seu quarto, coberto de whisk e algum outro alucinógeno qualquer. São exatamente 3 horas da tarde e existem milhares de folhas no chão, junto com o resto da lambança de Jack.
No momento em que ele abre os olhos e se depara com a cara de desgosto de Margareth é que ele realmente sai do transe daquela droga. Rapidamente se levanta, fica de frente para ela e pergunta as horas.
- São 3 horas e 20 minutos. Espero que você invente alguma desculpa pra estar assim e a falta de inspiração não é uma resposta PLAUSÍVEL. Espero que você arrume toda essa merda, e que fique IMPECÁVEL e também...
Antes mesmo dela terminar, Jack puxa sua P-38 do bolso, aponta para a parede e atira.
Pow.
A bala não chega a atravessar, mas vira só mais um buraco de muitos naquela parede. Queria que você conseguisse ver os olhos de Margareth ardendo em chamas.
- Dessa vez acertei, Margareth, Dessa vez estou livre.
Jack agora parece delirar, já faz uma semana que ele não tira da cabeça que tem um fantasma no quarto e que só irá desaparecer se acertar um tiro certeiro nos olhos desse tal espírito, e ainda tinha que ser passando pelos óculos. Agora me diz o que é mais estranho, um suposto fantasma no quarto ou o fato de ser um fantasma que precisa de óculos?
Para Margareth o que realmente importa são outras coisas, os números. Foram exatamente 5 balas, 5 buracos na parede e 5 poemas novos. Perfeito, fim.
- Quando que você vai aprender que os únicos fantasmas existentes são os que estão na sua cabeça? Agradeça a eles por ainda te fazerem escrever.
Margareth termina sua frase e então sai do quarto.
São exatamente 3 horas e 30 minutos.

sábado, 29 de julho de 2017

Margareth e Jack - Conto 1

As buzinas da cidade irritada. Não mais irritada que a cabeça de Margareth que está sempre muito ocupada com os números de qualquer coisa. O pão francês de 290cals, a xícara de café com açúcar de 33cals e sem falar nas pessoas indigestas da manhã de 2500cals cada. 
Ja Jack só se desespera com os números de balas da sua P-38 antiga. Faz uma semana que acredita que as balas estão sumindo e não foi culpa da Margareth - a única bala que ela conhece é a de hortelã com 20cals. Mistério encerrado, sem dúvida a culpa é do whisk.  
Faz dois dias que Jack escreve a noite inteira sem parar e que Margareth sumiu com o carro. 
São 00:00, Jack levanta da cadeira e veste seu casaco preto, o único que ainda não está rasgado. Cambaleia até a janela iluminada pela Lua, deixa seu caderno e caneta cair no chão e desmaia. 
Quando acorda já são 10:00, o piso está frio e Margareth acabou de abrir a porta do quarto:
- Santa merda, Jack. Pelo menos essas balas de merda te renderam uns poemas. Imagine se eu tivesse demorado mais um pouco...
E então ela joga um saco cheio de balas na mesa. Não são as de hortelã com 20cals nem as de caramelo com 40cals, são exatamente 3 balas para a P-38 que ela roubara na noite anterior de uma loja de antiguidades. Jack entrega seus poemas para ela e esconde o saco de balas no armário. Se tinha algo que Margareth não se cansava era de engolir seus poemas. Isso é uma das coisas que os mantém ligados, Margareth precisa dos poemas para o seu site que só cresce por culpa deles e Jack precisa de grana. Como parece que os únicos que gostam dos poemas são os seguidores do site, Margareth fecha o contrato e dá 100 pila pra cada poema que chegue a pelo menos 500 vizualizações. Trato feito. 
Jack sabe que a única coisa que pode salvá-la de se afogar em números doentios são esses poemas e, alem de tudo, isso também o salva com o aluguel do quarto. 
Com ar de madame vermelha, Margareth sorri ao ler todos os poemas. Depois que ela descobriu que é fácil lucrar com o público online, seus textos no site viraram sua segunda obsessão. Os poemas de Jack só a ajudam ainda mais com as visualizações. 
Margareth entrega um maço, um copo de água e um dorflex para Jack e em seguida fecha a porta com delicadeza. Seu salto barulhento pode ser ouvido na casa inteira, até que ela entra em seu quarto e desaparece. Silêncio. 
Jack bebe toda a água e engole uma pílula:
- Essa mulher ainda me mata um dia desses. 
Puxa um cigarro do maço, acende-o e em seguida olha para fora da janela. Seu olhar de tigre, amarelo, focado nas pessoas desesperadas que andam na rua, como se estivesse preparado para o bote. 
É assim que ele te devora. 

quarta-feira, 19 de julho de 2017

He doesn't exist

my man loves me 
he falls in love with every lie I tell. 
for him they're just words that open their green eyes 
but he still can't see me 
so he tries to hear me good.
with every phrase that I say
he paints me in his mind 
my hair, my body, my dreams
and I can't tell that isn't a gorgeous view 
in his mind my favorite color is red, my favorite flowers are roses and 
I am half of the truth
my man loves a work of art
painted with his ears 
and I don't sign underneath

I'm running with the wolves tonight

Woman with tired eyes
Where will you go?
Your heart cracking at every step you take
Your bones already fragile as feathers
But its short steps continue north
Why don't you stop, pale moon?
There is snow on all sides and furious yellow eyes staring at you in the dead of night
Can't you smell their sharp claws bathed in blood? How can it not give you chills?

But she continues to follow the frenetic breaths around her,
without fear
until the lair of the wolves

quinta-feira, 13 de julho de 2017

09/05/16 Rubro

Você é vermelha
Teus sonhos e teu corpo
Teus lábios
E seu sabor
Você é a minha cor preferida
Um tom rubro sexy
E às vezes um escarlate
Você é a cor da minha chama
Que completa meu ciano

10/05/16 You

You have what i want
You are what i want
So let me touch you
and kiss you
With your heart
Beating fast
You put me in danger
and make me feel
like im high of heroin
I can promise
If you be mine tonight
We will exceed extremes
Can you be in my vains?
I love it when you take your clothes
and make a mess in my bedroom floor
I know you love feeling insane
With your pure body, undressed
Be mine tonight
So i will never forget your taste

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pseudo introdução

Tem poesia aqui... em algum lugar.
Nunca foi tão difícil escrever como nesses dias está sendo.
Às vezes até sinto uma vontade de registrar algo, uma vontade que vem lá do estômago, mas nem dura tanto não. Até tento escrever algumas frases soltas por aí mas nem adianta, deve ser só mais uma tentativa para me enganar já que frases soltas sem nexo não estão me levando a lugar nenhum.

- Inspiração, inspiração. O que te traz inspiração?

O que eu realmente sei é que estou gostando muito de estar aqui escrevendo para vocês (que apesar de serem poucos, me leem e é isso o que importa). Até parece que assim me aproximo um pouco mais, é uma sensação engraçada. 
Escrever é tão, mas tão bom. Quando me sinto sozinha as linhas e o grafite me abraçam e assim me provam que podem ser uma das melhores companhias. Se você não escreve, o que está esperando?
Vou aproveitar aqui para falar um pouco sobre esse blog, o que eu escrevo aqui, caso alguém queira saber um pouco mais ou pelo simples motivo de me incomodar um pouco o fato de não ter espécie nenhuma de introdução nesse blog. Ok... a verdade é que estou adorando escrever esse tipo de ''diálogo'' para ti, seja lá quem seja. 
Eu sempre escrevi alguns poemas e principalmente diários e, quando eu era menor, sempre inventava de criar uns blogs. Então porque não juntar duas coisas que eu gosto muito em uma só? Foi daí que surgiu a ideia. Ah, e claro, eu precisava de algum lugar para salvar meus poemas e um blog me ajuda bastante nisso também.
O nome foi a parte mais fácil. Paredes brancas sempre foi algo que me incomodava, principalmente quando ia em consultórios e via aquele mar de paredes brancas nada interessantes. Então aqui estou eu tentando colorir uma parede branca com meus poemas. Talvez assim ela não fique tão sem graça.
Eu sempre tive um sonho de escrever um livro, chega até ser engraçado ler meus poemas e pensar nisso (bem, eu acho). Mas o fato é que cada vez mais eu sinto que me afasto desse sonho. 
Mas enfim, eu escrevo tudo o que eu necessito falar e a maior característica dos meus poemas é que eu nunca menti em nenhum verso. Minha poesia é sincera, retrato nu e cru.

Obrigada a você que chegou até aqui, quem sabe nos vemos de novo, em uma próxima entrelinha.

domingo, 25 de junho de 2017

2016

apenas mais um dia de outubro
que sento sozinha em um banco
e faço hora pra te esperar
atrasada, como sempre
finjo que leio um livro
paro 
não consigo focar em palavras 
só em números
as horas, minutos 
tic tac tic tac 
ligo mais uma vez? 
vou parecer chata...
passo no sebo dessa quadra?
você pode acabar chegando antes...
então permaneço nesse banco 
perto de um prédio qualquer 
com as batidas do coração 
acelerando cada vez que penso 
em você 



quarta-feira, 24 de maio de 2017

Meus versos querem você

Meus versos sonham com
seus lábios 
por passar pela sua voz, boca
e te beijar todo
Mas eles mal conseguem
atravessar a rua
Meus versos queriam mesmo é
virar água que desce 
pelo seu corpo inteiro
Mas só chegam perto da água
por serem areia pra aquário 
Meus versos queriam mesmo é
serem devorados pelos teus olhos
e desvendados por inteiro
Letra por letra
Mistério por mistério 
Mas meus versos sangram e
não são nada fáceis 
o que aborrece muitos 
que nem chegam ao primeiro 
ponto final.
Meus versos já não ligam mais
Se escondem por sonhar tanto
com o impossível 
E assim cuidam de mim. 
Meus versos querem estar na sua cama, serem seu lençol 
Querem estar nas suas notas
e passar da sua boca 
para outros ouvidos
Meus versos querem ser tudo
além de espelho, retrato nu e cru
Meus versos, tudo ou nada
Sussurram que a maior felicidade deles
é serem lidos até aqui 
por você