terça-feira, 26 de novembro de 2019

25 de Novembro de 2019

10:10 Edifício Pacini

Aqui estou, a caminho da asa sul. Quantas coisas podemos pensar enquanto dirigimos, né? Muitas, muitas, e as vezes, quando chegamos no nosso destino e resolvemos lembrar o que pensamos, vem um vazio... mas nem sempre é assim. Nem sempre. 
Eu lembro que eu pensei em fugir, explorar a asa sul toda de carro até achar um prédio e sentar embaixo dele. Aproveitar e escrever qualquer coisa! Mas eu sei, racionalmente, que não tenho tempo pra isso. Há tanto a resolver, e tudo bem. Eu seguro a Lua na mão, mas dessa vez sem tanto esforço, é mais como um abraço em mim mesma. 
Mas imagino muito, tanto que anotei para não esquecer, o quanto eu posso lembrar de mim ao passar pelas quadras da asa sul que ficam perto da L2 norte. Será que partes de mim estão perdidas por lá? Ainda irei buscar as respostas das minhas perguntas sobre a Asa sul. Sem correria, sem pressa. Há tanto a resolver e a melhor parte é que eu não desisti disso. 

Raíssa

segunda-feira, 11 de novembro de 2019


Acarajé Abará Vatapá Hauçá
assim como a música 
tinha um tempo 
que eu não ia à praia 
ou ria cedo

sempre pisei na areia 
com as pontas dos dedos
preparada para correr
como se eu estivesse posicionada
na marca 2 
de uma pista de corrida 
mentira, verbo errado

o que poderia acontecer 
se você ficasse de frente 
novamente 
com tudo aquilo 
que te rasga 
a pele
não é espelho, pode ser paupável?

você quer isso ao ir à praia? 
o que eu mais faço é mentir 
para mim mesma 
eu quero? -

sim, que a água do mar (venha)
que a água salgada (não beba)
já que eu mesma tenho tanto medo 
de ficar sozinha em praia 
mas tenho ainda mais 
de estar em uma casa 
com uma sala sem paredes
lotada de fantasmas reais 
distraídos? de olhos estáticos?
com as mãos segurando o controle do jogo? 

gostaria tanto de lembrar
o que me vem à cabeça é
o sofá, 4 lugares
os barulhos, a texturas,
o carro Zafira, 7 lugares 

disso lembro bem,
quanto mais eu jogava sabão,
mais eu sujava os vidros
a Nana sempre ao meu lado
sempre correndo mais do que eu
sempre,
até se jogar na piscina 
enquanto todos riam

rio de mim mesma,
rio mar rio mar 

lembro bem,
no caminho entre as casas, 
pergunto ao rastelo mais usado 
da pousada
pergunto e devia ter perguntado ainda mais

anos idade números tudo
fazem45º graus aqui agora 
é durante as férias em que todos
fingem se amar

coberta de peixes, algas, conchas que colecionei, o ardor da água viva, o vinagre, o bolo de brigadeiro, as memórias e as imagens mentais que se derretem sobre si mesmas
as mentiras,
as palmas reais, as que você não aplaudiu, a mesa marrom de madeira
a música 

ouço até hoje o amargo, o macio, a pausa, a ignorância, a incerteza de qualquer toque, o caminho coberto de plantas, as mensagens caídas no chão, a cerca que pulei para fugir mas sempre voltava, os cocos que roubei, os turistas que fiz amizade
e os espectros que fingiram 
como eu 
eu cansei de fingir, Nana

- Camila e Raissa