quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Para Cícero


Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar 

sempre aqui estou paralisada em lágrimas nos tantos ladrilhos do chão que outrora já contei mas já não me importa a soma ou a multiplicação. quem me navega é o mar? em um barco pelas minhas memórias ouço a voz de um belo cantor. posso eu agarrar sua voz pra me tirar daqui, cicero? ouço Paulinho da viola que me leva a anos atrás. pouco me importa a realidade quando quem me navega é o mar. ele me carrega como se fosse me levar, então te digo, leva-me daqui, bem longe daqui! não mais em um carro à caminho do colégio, mas sim novamente nesses ladrilhos. Novamente. minha noites em que me embriago de qualquer álcool a minha frente, sinto-me sozinha até que não já estou mais no presente, ouvindo o que já fora real. então te digo, me carrega dessa vez pra fora daqui em seus braços, numa viagem longa, longe do mar, de Brasília, do que não compreendo e em que choro incertezas. o corte entre passado e presente acontece quando encontro você, de passagem perto de mim, trazendo uma brisa leve. não é fuga, medo, mas sim eu já deitada na cama prestes a adormecer. a garrafa já escondida no armário, tabaco acabado, copos secos e sem álcool. já não me sinto sozinha. 


Alice. 

sábado, 24 de outubro de 2020

para lua


bebendo em qualquer banheiro ou sala com alguma janela bem mais alta do que eu, já que me encontro no chão que já não parece ter mais fim. sento-me aqui sozinha, como costumo geralmente estar, a não ser que alguém me tire a bebida e me ponha a dormir a força, muitas vezes já inconsciente de mim mesma. as palavras me descem fácil pelas notas, metáforas não me fazem melhor e o que escrevo pode ser s-o-l-e-t-r-a-d-o. já não sei mais meu ponto ao escrever, apesar de que todas as letras parecem estar aqui a pedir para serem escritas. um ombro amigo, longe. uma garrafa a borbulhar, sempre perto, os barbitúricos? não os toma! que nem o poema já escrito por mim algum tempo atrás. meu reflexo? não o reconheço, então não o olho. escondo-me de mim e vejo-me pelo reflexo dos ladrilhos à direita. as paredes tão firmes e cheias de ranhuras que posso socá-las até que me sinta aqui. sinto-me e digo a mim mesma, sempre vou estar ao seu lado mesmo que não estejas ao meu, por aqui as letras de um belo cantor sempre me deixam bem e as ruas de roma não gritam, mas são intervencionistas quando algum morador dela sofre, é roubada a casa. esse texto nada mais é que um abraço em um satélite tão distante que tanto faz questão deu ser um Plutão em seu sistema solar. não peço alguma resposta, apenas observo de longe o brilho, que daqui não tão longe está. é verdade, não sou a melhor por aqui, mas nunca duvidei de nada e nenhuma que sou. amo você, fique bem. 


com todo o carinho que conheço,

alice

 não me importo se as linhas não seguem um padrão, se os mapas em cima de uma grande mesa de ferro não se movam ou se completam, desde que as risadas parem e tornam-se acordes eu estou bem. não quero eu ser a que tem que saber de algo que te doa há anos, já basta o que eu não entendo como realidade ou memória. se te assusta o que está pendurado em uma parede, pra mim já basta que isso também me assuste, de verdade. 


Alice