sábado, 29 de julho de 2017

Margareth e Jack - Conto 1

As buzinas da cidade irritada. Não mais irritada que a cabeça de Margareth que está sempre muito ocupada com os números de qualquer coisa. O pão francês de 290cals, a xícara de café com açúcar de 33cals e sem falar nas pessoas indigestas da manhã de 2500cals cada. 
Ja Jack só se desespera com os números de balas da sua P-38 antiga. Faz uma semana que acredita que as balas estão sumindo e não foi culpa da Margareth - a única bala que ela conhece é a de hortelã com 20cals. Mistério encerrado, sem dúvida a culpa é do whisk.  
Faz dois dias que Jack escreve a noite inteira sem parar e que Margareth sumiu com o carro. 
São 00:00, Jack levanta da cadeira e veste seu casaco preto, o único que ainda não está rasgado. Cambaleia até a janela iluminada pela Lua, deixa seu caderno e caneta cair no chão e desmaia. 
Quando acorda já são 10:00, o piso está frio e Margareth acabou de abrir a porta do quarto:
- Santa merda, Jack. Pelo menos essas balas de merda te renderam uns poemas. Imagine se eu tivesse demorado mais um pouco...
E então ela joga um saco cheio de balas na mesa. Não são as de hortelã com 20cals nem as de caramelo com 40cals, são exatamente 3 balas para a P-38 que ela roubara na noite anterior de uma loja de antiguidades. Jack entrega seus poemas para ela e esconde o saco de balas no armário. Se tinha algo que Margareth não se cansava era de engolir seus poemas. Isso é uma das coisas que os mantém ligados, Margareth precisa dos poemas para o seu site que só cresce por culpa deles e Jack precisa de grana. Como parece que os únicos que gostam dos poemas são os seguidores do site, Margareth fecha o contrato e dá 100 pila pra cada poema que chegue a pelo menos 500 vizualizações. Trato feito. 
Jack sabe que a única coisa que pode salvá-la de se afogar em números doentios são esses poemas e, alem de tudo, isso também o salva com o aluguel do quarto. 
Com ar de madame vermelha, Margareth sorri ao ler todos os poemas. Depois que ela descobriu que é fácil lucrar com o público online, seus textos no site viraram sua segunda obsessão. Os poemas de Jack só a ajudam ainda mais com as visualizações. 
Margareth entrega um maço, um copo de água e um dorflex para Jack e em seguida fecha a porta com delicadeza. Seu salto barulhento pode ser ouvido na casa inteira, até que ela entra em seu quarto e desaparece. Silêncio. 
Jack bebe toda a água e engole uma pílula:
- Essa mulher ainda me mata um dia desses. 
Puxa um cigarro do maço, acende-o e em seguida olha para fora da janela. Seu olhar de tigre, amarelo, focado nas pessoas desesperadas que andam na rua, como se estivesse preparado para o bote. 
É assim que ele te devora. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário