sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

14 de janeiro de 2025 02h02 da madrugada

sem pontuação

eu sento ao lado da roda do meu carro na garagem ouço as gotas escorrendo pelas folhas das plantas do meu jardim frontal meu cachorro fica ao meu lado olhando a rua e ouvindo os cachorros que as vezes latem para algum som maior escrever sem por pontuação é interessante sabemos que é necessário mas não coloco agora tudo tem que ser dito sem pausa apesar de que na minha cabeça as faço ponderamente enquanto algum vizinho tosse e alguém ri e conversa bem à distância vamos seguindo em diálogo sentada em cima das pedras de Pirenópolis que constituem ø meu chão uma virada várias viradas cheiro do meu cachorro que agora está deitado em minha frente mas de cabeça em pé nunca saberemos ø que eles escutam que nós não escutamos então precisamos aceitar essa realidade para seguirmos né certo? primeira pausa aqui feita a contra gosto meu isqueiro acabou  mas por acaso pensei nisso antes e deixei um escondido numa bolsa no porta malas porém agora devo dormir podia ter sido um final diferente agora escuto uma coruja gritar penso que devo dormir não sei quem sou mas quem você é agora meu cachorro achou algo para morder e cada mordida preenche a noite

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Brasília, 8 de dezembro de 2024 (modificado e retirado de um diário)

Ia dormir, mas fui responder algumas mensagens no celular e acabei retornando para a escrita. Preciso voltar a ser calma. Preciso não estar contaminada.

Vi que escrevi, em outro momento, sobre um poço de fazenda. Lembro-me de mim, criança, correndo sozinha na estrada de terra da fazenda, com minhas botas bem gastas pelas aulas de montaria. Achei um poço no meio do milharal. Achei que tivesse descoberto um mundo de segredos. A água estava gelada. Bichinhos em cima da água se moviam, feito aranhas-d’água — parece que se chamam aquarius esses insetos de pernas finas.

Lembro que bebi; enfiei meu rosto na água gelada, espantando os insetinhos. Não dava para ver o fundo. Tudo era um tom de azul-marinho. Sempre tive medo de abrir os olhos debaixo d’água.

Sei que eu me aventurava sozinha por todo canto da fazenda do meu pai — algumas vezes sozinha, outras vezes com as crianças do caseiro. Brincávamos de dar comida para os porcos, chupar cana, andar a cavalo e perseguir os girinos da nascente do Rio Verde. Em outros momentos, minha brincadeira era com meus amigos imaginários. Seus nomes, guardados no fundo da minha cabeça — eles possuem corpo, voz, sentimentos e partes de mim.

Lembro-me bem deles, em memórias meio opacas, em brincadeiras que aconteciam no meu quintal de casa e também na porta de vidro da sala. Saudades. Vivo no passado, pois moro numa casa de infância ainda. Ou, talvez, procuro ao máximo viver numa casa de infância para fingir que há como segurar o tempo nas mãos.

E o pior: ainda não sou uma pessoa velha.

Casa repleta de coisas; bagunça do que já fui e sou; paredes que me viram crescer. Escrevo aqui, agora, mas sinto que minhas memórias antigas — se posso dizer — são todas tão classificáveis. Parece que posso contá-las. Consigo classificar coisas novas? Posso ver mais do que vivi? Esquecer e relembrar. Nem todo livro me dará respostas.

Gostaria de procurar mais nas florestas do Norte, ao lado de lobos.