domingo, 17 de setembro de 2023

Que besteira que nada

Caramba, dessa vez devo ter me perdido de vez mesmo.

Lendo livro de antropologia aqui em cima, no segundo andar da casa. Morri de nervoso agora pouco e não tive coragem de terminar de fumar o tabaco no banheiro do quarto de visitas. Pensando na cara de pau que eu tinha em subir e fumar um maço inteiro de cigarro quando era menor, sem medo algum de ser descoberta. Agora, tão longe isso, que nem me lembro mais se eu fumava ele inteiro mesmo ou se é conversa fiada e repetida que virou verdade. Bom, devia ser mesmo Marlboro gold ou aquele vermelho, dá no mesmo. Claro que naquela época não dava.

Me perdi porque agora sou medrosa. Como pode, né? Sentada agora ao lado do único gerbil que me sobrou nessa casa, ironicamente o único que não acho que goste de mim. E eu sem vontade de ler outros livros, por nervoso de lembrar que crio histórias enquanto leio, e isso me demora mais para ler. Não quero dor de cabeça. Acho também que não quero mesmo é enfrentar o tanto que deixei para trás, que queria ter colocado no papel. Aquela coisa, sabe, eu queria mesmo ou me enfiei num túnel besta, em que as paredes brancas tão é me assustando, mas não faço nada para pintar. Eita metáfora tonta pro óbvio. Tô longe da escrita, é isso mesmo. E, pior que isso, acabou virando metalinguagem, né? Não era a intenção. Na realidade, o que eu fico criando é história, crônica e um mundo particular.

Achei que ia parar por aqui, mas isso de medrosa me remeteu a outras lembranças, como quando minha melhor amiga me levou para uma aventura de noite e eu quis foi arregar. Quis ir embora, e ela se pôs a rir, dizendo que antes eu não faria isso. Realmente. Agora, lembrando da minha interlocutora de pesquisa, Helena, me falando da sua vida, quando um dia era punk e tinha 20 anos pela cidade de Brasília cheia de rock. Ela me disse que jurava que não ia morrer nunca. Me lembro quando ela me contou também da — agora falecida — irmã, que, quando viva, perto de morrer, gritava na cama que não queria ir embora de jeito nenhum. E foi. Que coisa, escrevo isso tudo, mas na realidade, o que suspeito é que tô medrosa e a morte é a resposta! A culpada! Ê, sai pra lá, hein.

Bom, é isso. Preciso compartilhar para esse mundo particular existir e continuar existindo por aí, fora da minha cachola. Vou ver o que posso fazer. Vamos ver.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Tantas coisas.

E meu coração querendo sair do meu corpo.

Ninguém me entende como eu mesma!
(dou uma risadinha sem graça) Olha só.

Você também deveria me entender, Diário.

Mas, para isso, preciso deixar você saber mais sobre mim. 

Você, que é vermelho —

os outros, de tantas cores e padrões, já sabem bastante.

Se personifico você, daí tenho a chance de me reapresentar.

Assim, quando somos só eu e você,

é aí que a gente se entende de verdade.
Mais do que qualquer pessoa que tente me ler.

Acho que todo escritor é um pouco assim, né?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

29/06/2020

4 da madrugada. 

Às vezes gosto de desenhar e escrever quando me sinto desconectada de mim mesma e do que me cerca, quando assim consigo levantar o pulso com grafite na mão. A surpresa de visualizar, com outros olhares, algo que produzi cativa-me — mesmo que este conteúdo, outrora, me seja de pouco agrado e angustie-me até as pontas de meus cabelos! Posso eu ter romantizado coisas demais, que assim não deviam, durante esses poucos anos em que sinto que o grafite nunca fugiu de mim? Talvez. Mas minha cabeça nunca fugiu da minha escrita. Sei que, ao falar de algo traumático, uso bem dos eufemismos certos para dizer o que me assusta e te morde por trás dos olhos. Então, nessa hora, te agrado com minha leitura. Posso eu, aqui e agora, desconectada, talvez saber quem sou? A voz da minha cabeça me incomoda demais por estar tão fina. Não está certo! Tic-tac, tic-tac! 

Agora, de volta às minhas bagunças mentais, quem perderia tempo de entender minha letra? E eu, que já perdi tempo demais em sonhos de escritora — aqui estou, como se eu nunca tivesse mudado! Como se essas folhas na parede ainda tivessem um pouco de mim! Então, talvez tenham. E minha escrita continua a pecar bastante. Margarete e Jack continuam como um retrato de quem sou e posso ser em minha cabeça?

Sinto falta de minhas paredes brancas, da fumaça de cigarro no quarto e dos sonhos com taças cheias de vinho tinto. As metáforas ainda me constituem, e meu sobrenome combina com minhas rimas fajutas! Aqui vou-me embora. Nos encontramos em alguma folha pautada que tiver!

Camila Carvalho