Realmente, faz muito tempo que não escrevo. Vez ou outra, algumas notas ou palavras de amor. Mas existe, sim, um certo tempo que não abro os documentos para escrever o que tem dentro de mim, muito menos dou uma olhada nas minhas paredes brancas. Mas a verdade é que não sumi, não mesmo. O processo analítico é curioso. Não esse que vem de mim por completo, que se pinta de vermelho e obsessivamente anota tudo o que pode no papel — outros momentos nas próprias pernas. Nada disso. Mas, sim, o processo de falar para outrem que pouco sei sobre, mas que escuta, dá risada, franze os olhos para enxergar melhor.
Eu achei que tinha me perdido, mas acho que só esqueci um pouco de certas coisas. Elas, porém, sempre retornam, não é mesmo? Ouço isso sempre de ti. Já outras situações parece que não voltam mesmo! De qualquer forma e sendo sincera, não quero entrar em buracos de coelho agora.
Para uma melhor visualização, estou agora sentada na sala de casa, mas antes estava dirigindo meu carro, freando onde não queria e acelerando ao ritmo da música. Tentei começar esse texto de diversas formas possíveis! Mas sempre alguém me interrompe. Não quero falar de um lugar mórbido, que, inclusive, consigo muito bem, se eu fechar os olhos — quarto, tapete, cigarro, caderno bege. Acredito que este lugar me levaria a solos (um jogo de infância que criei), romantizações estranhas, um senso de superioridade ainda não superado e sabe-se lá o que mais.
Escrevendo, agora, vou lembrando de mim mesma. Vou notando que realmente há em mim alguém que só vive no passado - mas não digo de forma vil. Também tenho os lugares em que me encontro, e que sei que em outras horas, enchem a boca para falar dele, mas, de contrário, não julgo! Afinal, qual a graça de só pensar e não compartilhar nada em um simples texto!
Minha intenção não é cruel, é apenas voltar a lembrar de mim. Não falo sobre corridas desesperadas, cigarros mentolados, um ponto claro no céu, madrugadas e tudo mais que vem do noturno. Falo do meu muro de arrimo, construído por mim mesma, que me permite sentar e ter uma visão — quase completa — do que me rodeia. Para quem não sabe, um muro de arrimo é uma estrutura feita para sustentar ou segurar o solo em locais onde o terreno é inclinado - algo sobre evitar desmoronamento. No meu, lido com alguém do outro lado. A presença de um rosto no escuro, que, um tempo atrás, esteve perto do meu olho direito, ou seja, eu o enxergava com mais nitidez. Mesmo que eu não o vejo em alguns momentos, um rosto pode ter tal forma que ecoa nos ouvidos.
A realidade é que meu muro, que eu considero bem feito (já outras pessoas, imagino, não o considerariam), continua presente. Estrutura que, na minha cabeça, parece mais de pedra do que de concreto, algo meio como as pedras de Pirenópolis, sabe? Não sei nem se isso é possível, naõ sou engenheira e muito menos arquiteta! Mas posso te afirmar, funciona! Eu garanto! Talvez não a longo prazo... mas com reparos, tem boa duração.
O desnível se encontra, parado entre mim, mas não no centro - tenho muito caminho para andar antes que eu tropece em alguma lasca solta na grama. Hoje você me fez lembrar de ti, de alguma forma, sentada aí, lateralmente à minha construção, bem retida em diferentes níveis do meu solo. Dessa vez, sem muita vontade de me deixar falar. Mas aqui escrevo, e espero não termos mais encontros com dor.
Lua