quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Para Cícero


Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar 

sempre aqui estou paralisada em lágrimas nos tantos ladrilhos do chão que outrora já contei mas já não me importa a soma ou a multiplicação. quem me navega é o mar? em um barco pelas minhas memórias ouço a voz de um belo cantor. posso eu agarrar sua voz pra me tirar daqui, cicero? ouço Paulinho da viola que me leva a anos atrás. pouco me importa a realidade quando quem me navega é o mar. ele me carrega como se fosse me levar, então te digo, leva-me daqui, bem longe daqui! não mais em um carro à caminho do colégio, mas sim novamente nesses ladrilhos. Novamente. minha noites em que me embriago de qualquer álcool a minha frente, sinto-me sozinha até que não já estou mais no presente, ouvindo o que já fora real. então te digo, me carrega dessa vez pra fora daqui em seus braços, numa viagem longa, longe do mar, de Brasília, do que não compreendo e em que choro incertezas. o corte entre passado e presente acontece quando encontro você, de passagem perto de mim, trazendo uma brisa leve. não é fuga, medo, mas sim eu já deitada na cama prestes a adormecer. a garrafa já escondida no armário, tabaco acabado, copos secos e sem álcool. já não me sinto sozinha. 


Alice. 

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