quarta-feira, 13 de junho de 2018

Jack e Margareth - Conto 9 (EM DESENVOLVIMENTO)

A manha parece bela, os raios de Sol batem na cortina e sao calorosos, esquentam o piso de madeira do quarto. Consiga imaginar casais acordando e abrindo suas janelas para ao fim bocejar para seus jardins frontais um macio bom-dia. Em seguida imagine um selinho entre eles, sim, mesmo com aquele bafo de superficialidade caloroso. Por ultimo, imagine o cafe da manha pelando sobre a mesa e o marido dando comida pro cachorro chamado Buster (menos americano impossivel). Agora volte a realidade.

Jack acorda assustado, caindo da cama, com o barulho de um passaro batendo na janela de cabeca e tudo. O seu sono geralmente nao e' leve, culpa da falta da sobriedade, mas dessa vez acordou facilmente e pior, querendo alguma coisa que ele so' saberia melhor mais tarde. Descendo as escadas, o perfume de rosas de Margareth compete com o cheiro do cafe quente, qual sera o mais cheiroso? Uma curiosidade sobre isso e' que sempre que sentir o cheiro de rosas pela casa e' quase certeza que as unhas dela estarao pintadas de vermelho. Vai entender.

Sao 6:30. Margareth, pontualmente como sempre, acaba de passar a chave na porta, conta ate 3 e sai em direcao ao metro para ir para a Consultoria de Estatistica. Nao fica muito longe, mas ela faz questao de nao chegar suada e muito menos atrasada (ela garante que não arranquem a calculadora de suas mãos), entao pega a conducao. No momento que ela confere se a porta esta trancada mesmo, Jack cria forcas para se levantar. Fique surpreso, e' uma raridade que ele acorde cedo, alguma coisa realmente nao esta certa.

Jack desce as escadas, cambaleando e quase tropecando no seu roupao, e vai para a cozinha. Sim, possivelmente ele e' uma das unicas pessoas que usam roupao que voce ira conhecer. A desculpa utilizada por ele para usa-lo sao os bolsos grandes que cabem facilmente tudo que ele precisa: de um lado um maco de cigarro e um isqueiro e do outro um papel e um lapis - nunca se sabe quando vira a inspiracao. 

Depois de duas xicaras de cafe bem forte e sem acucar nem nada, Jack vai em direcao a sala e joga seu roupao no sofa, veste seu casaco grande preferido e abotoa no meio. Pronto, um metido a Sherlock Holmes. Margareth sempre gostou desse casaco, mas depois comecou a odia-lo ja que Jack sempre deixava o casaco jogado em qualquer canto da casa, mas nunca no armario. Depois de uns meses, ela resolveu ate' colocar um gancho para que ele pendurasse, bem ao lado da port. Claro que nao adiantou nada. Serve para pendurar as chaves da porta.

Mesmo que o casaco fique muitas vezes jogado pela sala, esse e' o comodo mais agradavel de todos. As paredes possuem quadros suaves escolhidos a dedo por Margareth, a decoracao nao chama muito a atencao e e' rustica. Os dois sofas sao macios e nao ocupam muito espaco, o suficiente para se sentir confortavel. Mas a melhor sao as estantes com livros, a pequena biblioteca dos dois, dividida perfeitamente. Do lado direito os livros de Margareth: muitos sobre estatistica, materias diversas, alguns classicos como Mr Dalloway, A Redoma de Vidro, As Horas e Moby Dick (esse fica bem ao meio, dividindo os lados de cada um). Do lado esquerdo os de Jack: aqui encontrara de tudo, livros de receitas, classicos brasileiros,  livros para aprender a jogar poker e muita poesia. So' nao econtrara muito sobre poesia mimeografa do lado esquerdo, mas se quiser, olhe a estante da direita, provavelmente deve ter. Os dois lados de completam.

Vamos sair dessa casa, o que importa no momento está lá fora em algum lugar, algo que espera Jack e que nem mesmo ele realmente sabe o que é. Sendo assim, Jack abre a porta e sai com um pouco de pressa depois de trancar a porta.
Ele desce a rua, vira a direita, segue mais um pouco, tropeça em alguma pedra e anda entre o mato e um resquício de calçada. - Essa cidade precisa de mais cuidado, diz Jack tentando arrancar os pique-piques que grudaram na sua calça. Sua aparência é horrível, seu olhos estão avermelhados, seu rosto está pálido ao ponto de que qualquer pessoa que o olhasse, duvidaria se ele realmente está ali ou não (nenhuma novidade até agora). Agora, sobre o movimento na rua, preciso dizer que o local onde Jack está parece mais um zoológico do que uma cidade: girafas com cabeças de outdoors, raposas na frente das lojas sorrindo e prontas para te entregarem um panfleto que você com certeza não leria, hienas cheirando lixeiras em busca do almoço, ursos engravatados furiosos saindo de escritórios, brigas de trânsito entre gnus e até mesmo um guaxinim pilantra que acabara de roubar alguém, provavelmente. Interprete do jeito que quiser.
Jack não se incomoda tanto com isso, resolve acender um cigarro para entreter a boca e não inventar de dar um gole no cantil com pinga que guarda no bolso secreto do casaco. Ao entrar no parque, ele nota a senhorinha que sempre está sentada no terceiro banco, conhecida por velha louca por muitos, Jack inventou que seu nome é Clotilde. - Impressionante como a vó Clotilde sempre está sentadinha ali, pelo menos os pombos a fazem companhia, diz Jack esfregando os olhos para tentar enxergar direito e soltando a fumaça devagar, foi-se a última tragada do cigarro.
Saindo do parque pela entrada menos movimentada, Jack diminui o passo, alguma coisa não tinha caído muito bem, provavelmente culpa de alguma madrugada a qual ele perdeu o controle do que ingeriu. Ao atravessar a rua, ele quase provoca um acidente, mas nem se assusta realmente, estava se sentindo um pouco tonto - Quase certeza que não tinha um carro nessa pista. Ao chegar perto do poste da outra rua, Jack ouve os piores sons que se espalham por toda parte, descendo até seu estômago, são portas das lojas se debatendo, o ritmo de pensamentos dos andantes que já não aguentam mais trabalhar, mulheres gritando - Compro ouro! Compro ouro!, algumas crianças sentados no Sol quente junto com cartazes e com as mãos estendidas.
Coração acelerado, Jack se joga em um beco fedido que parece vazio, foge de tudo o que da e se apoia na parede até voltar a si mesmo novamente. - Onde eu estive com a cabeça? Me senti dentro de um círculo, preciso de um gole dessa pinga, e logo. Quando a bebida já arranhava sua garganta, Jack sente algo passando pelas suas pernas, mas não liga tanto. Ele agora começa a andar em direção ao final do beco, enquanto tampa o cantil. - São apenas algumas quadras para voltar para casa.
Andando com calma e passando pelos caminhos menos movimentados e consequentemente mais escuros, Jack da uma olhada baixa e vê que algo o acompanha e sem nem pensar duas vezes, aproveita para falar qualquer coisa que vem a mente, basta um par de orelhas para Jack nunca mais se calar, - Não quero me sentir sozinho, não quero, hoje não. Às vezes procuro ver poesia em tudo e isso muitas vezes me conforta. Hoje isso não está sendo o bastante. Você me entende? Jack não sabe se está alucinando ou não, mas é quase certeza que há um tigre ao seu lado o acompanhando e olhando para frente. - Vou acreditar que você esteja aqui, eu não tenho muito a perder e me parece que você não irá me devorar ou algo assim. Você está aqui e parece também ser um bom ouvinte, além do mais, parece mais humano do que muitos homens engravatados que vejo por aí nas notícias. O tigre continua olhando pra frente, mas suas orelhas acompanham as frases de Jack.  - O que realmente aconteceu para você estar aqui? Fui eu que saí de uma jaula quando entrei no beco ou estamos em uma nesse momento? Bom, tudo bem, talvez não haja resposta para isso. O tigre muda de lado e os dois atravessam a rua que não tem movimento algum, só mais alguns metros e estariam na porta de casa. - Sei silêncio me conforta pelo menos, devo estar o irritando com tantas perguntas e baboseiras... bem, penso se seria muito estranho se você falasse alguma coisa e me respondesse algo. O tigre não faz contato visual algum, apenas boceja enquanto Jack bate no ouvido para ver se ele não está entupido. - Pelo menos você me parece são, sabe mais para onde estou indo do que eu mesmo sei. Quanto mais andavam, Jack parecia escutar o começo de uma música, estava baixo mas ia aumentando, - Obrigado por me acompanhar, acho que eu não saberia voltar sozinho. Não estou me sentindo tão bem aqui, será que devo fugir de vez? Talvez tenha algum lugar me esperando, assim como senti que você me esperava aqui na rua. Sim, eu seria um covarde, mas talvez eu deva. Você ao menos poderia olhar alguma hora pra mim quando eu falo... A música começa a aumentar na cabeça de Jack, - Espere, isso é Carmina Burana? O tigre para e encara Jack por um tempo, é quase como se ja se conhecessem a muito tempo, dá um salto ligeiro e some no terreno ao lado da casa de Margareth. Cada listra na pele do animal parecia como uma resposta para as perguntas e pensamentos de Jack, mas que precisavam serem descodificadas de alguma forma. A música para logo quando Jack chega na porta de casa, - Não posso ter respostas para tudo, mas ao menos eu devia produzir perguntas mais interessantes, diz Jack olhando para o muro da casa ao lado, sem entender muito bem o que tinha acontecido. Poucos segundos depois Margareth chega perto de Jack, o viu conversando sozinho antes de chegar, - Jack, o que houve? Estava andando sozinho por aí de tarde? Margareth pergunta desconfiada. Jack, ao perceber que Margareth estava ao seu lado, se sentiu mais calmo, como se tivesse descoberto todo o código que pudesse estar escrito em um casaco de pele de tigre.
Jack destranca a porta e sorri com calma, - Eu não posso ir embora, sussurra baixinho sem que ela o consiga ouvir. - Jack, acho que você precisa de um antipsicótico, diz Margareth antes de sumir pela casa.


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