sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Margareth e Jack - Conto 2

As 24 horas do dia. A porta que você esqueceu de trancar. O cachorro na rua, latindo, pingando baba. Uma família inteira que morre agora na Síria. O som de uma raposa. A bomba que cai agora e mata 250 pessoas. 251 pessoas. 252 pessoas. Os postos de saúde que de saúde não tem nada. Os médicos corruptos. Os vendedores de drogas. A carniça de deputados, senadores. O presidente morto por pássaros azuis. A pausa em uma música do Beethoven. Os números de Margareth. Os corredores brancos que te engolem com os olhos. A dor e a delícia. O fim. O fim. O fim. O fim do labirinto e...

- ACORDA, JACK. CACETE!
Essa não é a primeira nem segunda vez que Jack está caído no chão do seu quarto, coberto de whisk e algum outro alucinógeno qualquer. São exatamente 3 horas da tarde e existem milhares de folhas no chão, junto com o resto da lambança de Jack.
No momento em que ele abre os olhos e se depara com a cara de desgosto de Margareth é que ele realmente sai do transe daquela droga. Rapidamente se levanta, fica de frente para ela e pergunta as horas.
- São 3 horas e 20 minutos. Espero que você invente alguma desculpa pra estar assim e a falta de inspiração não é uma resposta PLAUSÍVEL. Espero que você arrume toda essa merda, e que fique IMPECÁVEL e também...
Antes mesmo dela terminar, Jack puxa sua P-38 do bolso, aponta para a parede e atira.
Pow.
A bala não chega a atravessar, mas vira só mais um buraco de muitos naquela parede. Queria que você conseguisse ver os olhos de Margareth ardendo em chamas.
- Dessa vez acertei, Margareth, Dessa vez estou livre.
Jack agora parece delirar, já faz uma semana que ele não tira da cabeça que tem um fantasma no quarto e que só irá desaparecer se acertar um tiro certeiro nos olhos desse tal espírito, e ainda tinha que ser passando pelos óculos. Agora me diz o que é mais estranho, um suposto fantasma no quarto ou o fato de ser um fantasma que precisa de óculos?
Para Margareth o que realmente importa são outras coisas, os números. Foram exatamente 5 balas, 5 buracos na parede e 5 poemas novos. Perfeito, fim.
- Quando que você vai aprender que os únicos fantasmas existentes são os que estão na sua cabeça? Agradeça a eles por ainda te fazerem escrever.
Margareth termina sua frase e então sai do quarto.
São exatamente 3 horas e 30 minutos.

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