Texto que achei no meu caderno de gatinhos do pintor Carlos Páez Vilaró, comprado no Uruguai. Textinho escrito em 2018.
Estava em casa, não aguentei. Precisava sair daquele lugar. Já estava quase pra vomitar de agonia. Subi na bicicleta e cheguei aqui. Engraçado, durante o trajeto todo, só pensei na cena de estar aqui, sentada - exatamente aqui. Preparei o roteiro inteiro enquanto pedalava e o vento batia em meu rosto. Onde moro é seguro e existem vários caminhos e becos para se enfiar. É divertido.
A verdade é que sempre quis sentar aqui e escrever algo, qualquer coisa que fosse. De certa forma, estou feliz por essa conquista! Durante o percurso inteiro, pensei no agora, estar sentada segurando exatemente esse lápis e esse específico caderno. Porém, não consegui pensar em nenhuma linha escrita. Bom, o que é escrito agora então é fresco. Melhor que um diário! Concorda?
Precido dizer para você algumas coisas: o último filme que assisti foi ótimo, mas fez com que eu me sentisse sozinha. Durante a pedalada até esse banco que sento agora, relembrei o medo que tenho de homens desconhecidos. Também pude me divertir com o som que as folhas fizeram quando estava chegando perto de onde me encontro agora. Breve trajeto, divertido. Outra coisa, mas essa vai mais longe no que estava pensando: é que tento ao máximo não repetir palavras ou frases de poemas que escrevi em outros textos. Sim, estou tentando ao máximo não repetir e escrever "fluxo de consciência". Bom... agora, foi-se! A penúltima coisa que vos digo é que senti uma mão nas minhas costas, agorinhas, mesmo estando sozinha. Isso foi agora a pouco! Nesse banco embaixo de um caramanchão feito pela administração do Lago Norte. A última é que estou indo me levantar, rumo minha casa e usar, pela primeira vez, as luzinhas traseiras da minha bicicleta.
Ah! Antes que me esqueça, já que você chegou até aqui, seja quem for, contei-te uma mentira nesse texto. Ache. Ache-me.
Raíssa?